Foram meses de preparação. Os muitos adiamentos só serviram para
aumentar a expectativa. E que foi devidamente frustrada com a estreia,
na manhã desta segunda, de "Encontro com Fátima Bernardes".
A frustração começou antes mesmo do programa: quase dez minutos de
atraso! O "Bem Estar" não terminava nunca. A fumaça que se espalhou pelo
estúdio levantou uma dúvida: será que esqueceram no fogo a panela onde
estão preparando o "Encontro"? Não, era só gelo seco.
Fátima finalmente entrou no ar e a audiência da Globo pulou na hora de 6
para 10 pontos, arrancando a liderança da Record até aquele momento. A
apresentadora surgiu contente, segura e com novos reflexos no cabelo. E o
cenário também impressionou: uma parede inteira tomada por um telão,
com imagens eternamente cambiantes.
A plateia foi rapidamente introduzida, incluindo do obrigatório ator da
Globo (Bruno Gissoni, o Iran de "Avenida Brasil") ao inevitável lutador
de MMA (hoje em dia, todo programa que se preza tem um). E passou-se
logo para a primeira reportagem de uma série especial sobre a adoção,
que durará a semana inteira.
Lançamento do programa "Encontro com Fátima Bernardes", no Rio
Nenhuma novidade no começo, apesar das declarações emocionantes de
crianças que vivem em orfanatos. A coisa só esquentou mais para o final,
quando a emissora usou seu enorme poder de fogo e acionou
correspondentes internacionais. Marcos Losekan falou do processo de
adoção na Inglaterra e Thiago Crespo foi ao Marrocos.
Parecia que o ritmo ia engrenar. Só que não: a pauta seguinte era dessas
que são maravilhosas no papel, mas não rendem nada no vídeo. Resolveram
mostrar como que a "nova classe C" viaja para o exterior. E descobriram
que ela viaja do mesmíssimo jeito que as outras classes: vai para o
aeroporto, despacha a bagagem, tem medo de avião Fátima chegou a
perguntar a um dos viajantes presentes no estúdio: "como foi que você
fez as malas?"
A matéria foi longa demais e irritou a galera que comentava no Twitter.
Quando entrou o assunto seguinte, depilação masculina, a má vontade dos
internautas já era evidente. Nem o depoimento gravado de Tony Ramos, o
peludo mais famoso do Brasil, trouxe algo que alguém ainda não soubesse.
Mas o pior mesmo foi a tal da "cabine", onde o pessoal da plateia
respondeu a uma pergunta óbvia: "qual é o seu sonho?" As respostas,
claro, foram mais óbvias ainda: amor, paz, saúde, sucesso, zzzzzz.
Também não funcionaram as intervenções de Lair Rennó, encarregado de
trazer notícias frescas ao longo do programa. Primeira bomba
selecionada: o incêndio de um santuário em Srinagar, na Índia, que não
deixou vítimas. Algo que não entraria nem no "Jornal Nacional". E o
humorista Marcos Veras tentou fazer entrevistas engraçadas na estação
Central do Brasil, no Rio, mas só conseguiu colher mais obviedades.
Resumindo: "Encontro com Fátima Bernardes" estreou com cara de piloto,
com matérias frias e muitas derrapadas. Ainda assim, arrasou no Ibope:
alcançou um pico de 11,5 pontos, marca que a Globo não atingia desde
2006. Mas, mesmo depois de uma gestação tão longa, ainda não está
pronto. Parece que essa panela foi tirada do fogo cedo demais.
FONTE, REDAÇÃO E IMAGEM: http://f5.folha.uol.com.br