
João
Henrique Coutinho Ribeiro divide seu tempo entre editar filmes ("Tropa
de elite 2", "Paraísos artificiais") e criar músicas. Embora já tenha
contribuído com gente como Daniela Mercury ("Domingo no Candeal"), nunca
teve versos tão cantados quanto os de "Vida de empreguete".
Saiu da cabeça de Quito Ribeiro, nome artístico do
compositor de 41 anos, o hit da novela "Cheias de charme". Penha (Thaís
Araújo), Rosário (Leandra Leal) e Cida (Isabelle Drummount)
popularizaram os versos sobre as empreguetes, mas a resposta da rival
Chayene (Cláubia Abreu) já está a caminho. A diva do eletroforró vai
lançar nos próximos capítulos a música "Vida de patroete", também
composta por Quito.
"A encomenda foi de uma música resposta que ficasse
claro que havia essa referência à vida de empreguete. São duas músicas
irmãs", explica por telefone. "A letra fala do cotidiano das patroas e
das queixas em relação às empregadas. Chayene tem muito carisma, a
música vai ajudá-la a dar a volta por cima." Ele conta como escreveu o
hit anterior e repassa a carreira que começou em Salvador e continua no
Rio.
Como foi a encomenda de 'Vida de patroete'? Quito
Ribeiro - Os autores gostaram muito da "Vida de empreguete" e como eles
queriam uma música das patroas que fosse uma resposta, foi natural que
eles me pedissem para fazer essa segunda música. A encomenda foi de uma
música resposta que ficasse claro que havia essa referência à "Vida de
empreguete". Então, são duas músicas irmãs. Há elementos musicais
semelhantes nas duas.
E você acredita que fará o mesmo sucesso de 'Vida de empreguete'? Quito
Ribeiro - Tomara que aconteça algo semelhante, mas não tenho como
prever. Agora, é uma música para o condomínio na novela, mas Chayene tem
muito carisma, a música vai ajudá-la a dar a dar a volta por cima. Como
ela é uma cantora de eletroforró, tentei fazer uma música que
dialogasse com isso e ao mesmo tempo com o pop das empreguetes. A letra
fala um pouco do cotidiano das patroas e de suas queixas em relação as
empregadas.
É a primeira vez que compõe para novelas? Quito
Ribeiro - É a primeira vez. O Hermano Vianna [sociólogo e consultor
musical da novela] é meu amigo e me perguntou se toparia fazer música
para a novela. Eles estavam pedindo para outras pessoas, entre elas eu.
Ele me mandou um e-mail com o briefing. Fiz a música, mostrei, ficou um
tempo de suspense... Depois de dois meses, disseram que gostaram mais da
minha.
Como foi a produção de 'Vida de empreguete'? Quito
Ribeiro - Chamei o Jonas Sá para produzir a faixa para mim, antes mesmo
da música ser escolhida. Produzimos a gravação com a minha voz e a de
uma amiga minha, Cecília Spyer. Quando a música foi aprovada, quiseram
que só substituísse as vozes pelas das meninas. Usaram o mesmo
instrumental da gravação original. O contato do Hermano foi no fim de
março. Eu fiz a música em dois dias. Mandei voz e violão, mas pediram
outra versão. A versão de agora com as vozes das atrizes foi gravada no
começo de maio. A novela já estava no ar.
Você falou de um e-mail com briefing, o que tinha nele? Quito
Ribeiro - Eles pediram que em determinado momento falasse "vida de
empreguete, pego às sete". Falaram qual o espírito da novela, a onda das
personagens, para quem a música era dirigida. Perguntei para minha
empregada, a Kelly, como era o fim de semana dela. Para o refrão, queria
alguma coisa alegre, que não fosse de trabalho. A primeira parte já
falava sobre isso. Ela me falou: "Fim de semana é igual: as meninas se
arrumam, se vestem toda e vão para o baile". Daí veio a ideia do "salto
alto e ver no que vai dar". Mas tem outra frase forte na música e nas
paródias: é a parte "queria ver madame aqui no meu lugar". Todo mundo se
identifica com isso. Todos querem ver um rival do trabalho na mesma
situação. Esse verso tem força.
Além de novela, já escreveu para filmes? Quito
Ribeiro - Eu sou editor de filmes. No final do filme "No meu lugar", do
Eduardo Valente, precisava de uma música e eu escrevi. Também editei. No
caso da novela, gostei de ter feito. Foi legal e me senti confortável.
Eu me identifiquei com a força audiovisual das imagens da letra. Foi
fácil fazer.
'Vida de empreguete' já te deu bastante dinheiro? Quito
Ribeiro - A maior parte do dinheiro vem com execução pública. "Vida de
empreguete" vem tocando no rádio, na novela, em programas. O fato é que
eu vou ganhar... Mas eu não ganhei por ter feito a música. Eu ganho por
ela estar dentro da novela. Não é como fazer um jingle, não ganha por
ter feito. Ganho pelo fato de ela estar sendo tocada na novela. Recebo
também porque está tocando na novela e nos programas, via Ecad [órgão
responsável pela a arrecadação e distribuição dos direitos autorais das
músicas].
Então, hoje seu ganha-pão é como editor de filmes? Quito
Ribeiro - Eu ganho o dinheiro para viver é com cinema, documentários,
filmes. Mas eu faço shows. Música é um mercado que vem mudando muito,
com a internet. Estamos em um momento de transição. Tenho que me virar
muito para sobreviver com isso. Como compositor, só ganho nessas
situações. É quando entro em discos, novelas. Não dá para me sustentar
como compositor.
Você está há 17 anos no Rio. Mas quanto o fato de você ser baiano ainda influencia nas músicas que você cria? Quito
Ribeiro - Influencia porque a Bahia é um estado muito musical. Minha
experiência lá era muito na rua, no ambiente de carnaval. Em 1985, com
14 anos, era o auge dos blocos afro. Eu vivi toda essa euforia na Bahia.
Eu morava lá e vi o surgimento de Daniela Mercury, Timbalada. Isso está
na minha origem. Não sei se essa música é caracterizada como música
baiana, não é um axé music. Mas mesmo assim está ali por perto. Ela tem
uma levada de ska, que é um ritmo jamaicano. E é um tipo de música que
influenciou a Bahia.
O que mais te inspirou? Quito Ribeiro - Tem um
pouco de Paralamas do Sucesso e do pop contemporâneo, de Beyoncé,
Rihanna. As empreguetes têm um pouco deste traço... Foi algo que fez
eles gostaram da música. Se a Ivete Sangalo gravasse, cairia bem no axé.
A Gaby Amarantos comentou comigo que era como um tecnobrega.
O líder do Psirico, Marcio Victor, toca no seu
primeiro CD, assim como Domenico, Kassin e Moreno. Como é andar com a
turma da MPB mais cabeça e com o pessoal do pagode-axé, mais popular? Quito
Ribeiro - Meu único disco se chama "Uma coisa só". Tem a turma do
Acabou La Tequila, Mulheres que Dizem Sim, +2. E tem a galera de
Salvador, Carlinhos Brown, Marcio. A geração 2000 tem uma característica
que a gente faz as coisas juntos, mas não faz a mesma coisa. Na nossa
geração, tem espaço para cada um ter sua própria leitura. Não vejo por
que não juntar as duas coisas. Estou produzindo um CD novo e devo gravar
no fim do ano.
E quais seus projetos do cinema? Quito Ribeiro -
Estou montando um filme do José Wilker, o primeiro dele como diretor. É
com o personagem Giovanni Improtta. Acabei de fazer o DVD do Gilberto
Gil, "Concerto de cordas". E estou montando documentário sobre o
[advogado] Sobral Pinto [1893-1991].
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